SÃO PAULO (Reuters) - Parece que os produtores e diretores brasileiros finalmente acordaram de um sono profundo, no qual estavam imersos desde os anos 1990, e perceberam que o público adolescente, praticamente negligenciado, está ávido para se ver no cinema.
Depois do paulista "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzki, e do gaúcho "Antes que o Mundo Acabe", de Ana Luiza Azevedo (ambos de 2010), chega aos cinemas de todo o país a resposta carioca: "Desenrola", de Rosane Svartman.
Antes de se tornar um longa-metragem, "Desenrola" já foi uma série de documentários, um site interativo e um livro. O filme é o resultado de uma pesquisa com adolescentes e procura mostrar como eles se vêem e encaram essa fase da vida. A julgar pela reação da platéia jovem do III Festival de Paulínia - onde o filme foi exibido pela primeira vez, em julho do ano passado -, o público-alvo gostou muito da forma como foi representado na tela.
A história, assinada pela diretora e por Juliana Lins, apresenta Priscila (Olívia Torres) que, aos 16 anos, tem um milhão de dúvidas sobre a vida, os rapazes, o futuro e o presente. Quando sua mãe (Claudia Ohana) sai em viagem, ela vê a possibilidade de investir seriamente em Rafa (Kayky Brito), mais velho do que ela e por quem se sente atraída.
Essa é a linha central da narrativa de "Desenrola" que, embora comece como um capítulo de "Malhação", aos poucos procura ganhar densidade com novos personagens, dilemas e conflitos da adolescência, como a gravidez precoce. É verdade que nem sempre consegue a profundidade que aspira. A própria gravidez de uma personagem secundária é uma questão resolvida muito facilmente.
Ainda assim, Rosane sabe falar diretamente ao seu público. Tendo como referência alguns retratos brasileiros da juventude da década de 1980, como "Bete Balanço", "Menino do Rio" e "Garota Dourada", "Desenrola" quer - e consegue em boa parte do tempo - ser um filme ensolarado (não por acaso estreia no verão) e descolado. Rosane cria alguns momentos bastante inspirados, como uma serenata peculiar e uma bela cena em que Priscila ganha flores oferecidas por estranhos, na rua, ao som de "Linda Rosa", numa versão da banda Playmobil.
No elenco de "Desenrola" há três achados. A dupla Lucas Salles e Vitor Thiré garante alguns dos momentos mais engraçados do filme como um garoto ingênuo e apaixonado por Priscila e o melhor amigo dele. Já a protagonista, Olívia Torres, combina carisma com a ingenuidade e a insegurança da juventude. Ela transforma a personagem, que nas mãos de atriz menos talentosa podia se tornar um clichê ambulante, numa garota real, que pensa, sonha e tem sentimentos.
Se para muitos adolescentes "Desenrola" funcionará como espelho, para seus pais será um alerta - ou até mesmo aplicará um susto. Essa é a chance do filme cumprir um papel social, abrindo discussões sobre as dificuldades e alegrias da passagem da infância para a vida adulta