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domingo, 16 de janeiro de 2011

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Crítica: Desenrola

JANEIRO 16, 2011
Desde o renascimento do cinema nacional, a maioria dos filmes lançados eram praticamente sobre os mesmos assuntos, a violência do nosso país, comédias pastelões e recentemente filmes religiosos. Agora nos últimos dois anos os cineastas brasileiros, acordaram e descobriram um novo e potencial mercado, os filmes voltados para o público adolescente.
Depois dos ótimos As Melhores Coisas do Mundo e Antes Que o Mundo Acabe, estreia nas salas brasileiras, a ótima comédia adolescente Desenrola. O filme dirigido por Rosane Svartman,que tem vasta experiência com o público da época em que era roteirista da clássica série adolescente Confissões de Adolescente, é um retrato fiel e divertido da nova geração de adolescentes.
A principal qualidade do longa é sua veracidade, o projeto começou com uma pesquisa sobre sexo, que acabou virando a série de documentários “Quando éramos virgens”, depois foi adaptada para o formato de websérie e até virou livro. Toda essa pesquisa, serviu de base para o roteiro escrito pela própria diretora e  Juliana Lins, e para a criação da personagem principal, a fofa adolescente Priscila, interpretada pela jovem muito talentosa Olívia Torres.
Na história, Priscila é uma adolescente de 16 anos, que tem uma paixão platônica por um garoto mais velho, o Rafa (Kayky Brito). Quando sua mãe (Claudia Ohana), viaja por 20 dias, ela fica com o apartamento só para ela e resolve que é hora dela revelar seu interesse por Rafa.
A trama central pode até parecer simples demais, mas é um bom exemplo da veracidade da história, afinal quando éramos adolescentes (no meu caso isso faz pouco tempo) nossos problemas eram bem bobos, mas acreditávamos que eram os maiores do mundo. O filme no começo parece até uma versão cinematográfica da horrível novela teen Malhação, mas aos poucos vai mostrando seus diferenciais.
A diretora escolheu uma linguagem moderna e sincera que fala diretamente com os jovens, ao mesmo tempo que faz referências aos anos 80, lembrando aos pais que eles também já foram adolescentes. As referências ao passado são muito bem encaixadas na trama, com uma trilha sonora que mistura clássicos do rock nacional com músicas modernas. Essa mistura de passado e futuro, é mostrada quando Priscila encontra uma caixa, onde sua mãe guarda coisas da época quando era casada com o pai da adolescente. As cenas da jovem vasculhando a caixa e encontrando um walkman (algo que muitos jovens atuais nunca ouviram falar) é ao mesmo tempo saudosista e hilária.
A escolha de Priscila por roupas diferentes, por escutar a velha fita da sua mãe e gostar do hit da banda dos anos 80, Simple Minds, mostra que ela não é uma garota tão igual as outras adolescentes, tornando-a muito mais atraente para o público.
No meio de uma história simples, o filme coloca em discussão assuntos séros, como qual é a hora certa de perder a virgindade, gravidez na adolescência. Todos esses assuntos são encaixados na medida certa na trama e sem aquele tom de aula de educação sexual. Apesar da sensação de que alguns temas são resolvidos facilmente, o filme consegue desmistificar principalmente o tabu da virgindade.
Para o público acreditar ainda mais na veracidade da história, o filme precisava ter um elenco que também fosse realista e está nesse ponto outra grande qualidade da produção. No lugar de colocar atores queridinhos do público se passando por adolescentes, foram escolhidos atores que são adolescentes de verdade e parecem interpretar versões de si mesmo.
A talentosa Olívia Torres, que já integrou o elenco de Malhação, é uma jovem atriz que merece ter sua carreira acompanha de perto. Olívia é carismática e tem ainda aquele jeito e olhar ingênuo da adolescência. Sua personagem, Priscila, começa como uma típica adolescente, que durante a história cresce e e se torna uma menina mulher.
Engana-se quem pensa que o filme é dedicado somente as meninas, os garotos também vão encontrar semelhanças nos personagens Boca (Lucas Salles) e Amaral (Victor Thiré), uma dupla no estilo do Gordo e Magro, que participam dos momentos mais engraçados da história. Lucas Salles é um achado, o ator se saí muito bem tanto nos momentos engraçados como nos mais sérios.
O bom elenco não se faz somente de jovens talentos, tem espaço também para atores atuais e veteranos. Kaiky Brito está razoável no papel perfeito para o seu perfil, Claudia Ohana faz o papel de mãezona. Além das boas participações de Marcelo Novaes e Letícia Spiller,repetindo a parceria da época da novela Quatro por Quatro, além de uma hilária participação daJuliana Paes. O único e grande mico do elenco, é a participação de Pedro Bial como um professor, não tem como não lembrar dele como o apresentador do BBB e a cena na qual ele passa um trabalho para os alunos, parece uma prova do Big Brother.
Desenrola acerta por assumir ser um filme para o público adolescente, sem usar piega e sem ser inocente demais. Com um elenco escolhido a dedo, coloca em discussão, sem enrolação e de uma maneira divertida, assuntos até hoje considerados tabus. Uma divertida reflexão sobre uma das fases mais complexas e divertidas da vida.

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